No final dos anos 60 e
início dos anos 70 existia em Bicas várias turmas que se reuniam para contestar
o sistema e se divertir, principalmente.
Estávamos no auge da
ditadura militar e as liberdades eram limitadas, os trilhos ainda estavam no
lugar, as oficinas da RFFSA também funcionavam e ainda de pé o Cine Theatro São
José!
Nossa turma era
formada por garotos com idade ginasial, ou melhor entre 12 e 15 anos e o local
principal de encontro era na antiga Praça que ninguém mais sabe o nome, atrás
da antiga prefeitura da cidade, na esquina das Ruas Dona Ana e Rua Prefeito
Major Severino Costa.
O local era ideal pra
gente se reunir. Era central e meio malocado por causa das várias árvores
frondosas que serviam de esconderijo e observatório.
Na árvore da esquina
um banco de sentar meio detonado foi batizado de “banco da saúde” que não me lembro o porquê e que servia de degrau
pra subirmos nas árvores.
Quando alguém aprontava
alguma do tipo: furtar jabuticaba no quintal da Dona Maria Baião e tinha que
sumir do circuito era fácil: existiam quatro saídas rápidas. Três pra Cel.
Souza e uma no fim da Rua Dona Ana que desembocava no cafezal do Dr. Oliveira.
Nessa rota de fuga dava pra passar por trás das oficinas e do campo do
Leopoldina e vazar lá na Barão de Catas Altas, nas imediações do antigo casarão
e hospital.
O prédio do Fórum
(atual secretaria de cultura), possuía um portão lateral que nunca era
utilizado. Passando por ele uma das trilhas a seguir era por trás do Centro Espirita
e chegávamos em um abandonado reservatório de abastecimento de água. Era outro
ponto de encontro da Turma da Maloca!
Essa turma tinha uns
20 integrantes fixos e outros que gostavam das aventuras de moleque, mas que não
assumiam suas molecagens... como os efetivos.
Todo mundo tinha
apelido e estudava no nível ginasial. Alguns em JF, a maioria no Chico Peres em
Bicas.
A noite, praticamente
toda noite, menos sábado e domingo (quando aprontávamos nas festinhas de
aniversário onde um era convidado e o resto era penetra), brincávamos de “barrilium”. Um coitado tinha que achar
os outros naquele pequeno imenso universo ao redor do “banco da saúde”.
O cinema era outro
ponto de encontro da galera. Nessa época as primeiras namoradas, na primeira
sessão do domingo à noite, sentavam bem nas primeiras filas e guardavam lugar
pro’s pretendentes.
Assim que o Gote (Iguatemi Índio do Brasil) apagava a luz a galera se ajeitava
do lado de sua amada. Quem “pegava na
mão” era considerado líder da galera. Pelo menos durante a semana. Mão no
ombro então era o máximo!!!
A Turma da Maloca ia
em peso no cinema, assistíamos o filme várias vezes e a algazarra era geral. Gritos
de “corta
Gote” ou Vai acontecer isso. O mocinho
vai morrer no final.
Impreterivelmente o
Duílio convidava alguém inconveniente a se retirar...
No balcão superior do
cinema, pouca gente frequentava. Geralmente o local era dominado por outros marmanjos que mantinham encontros
furtivos, em outro nível de relacionamento, nessa área do cinema.
A Turma da Maloca era
tão assídua que tinha transito livre até na cabine dos projetores, onde o Gote
imperava. Eram dois projetores lindos e imensos, que rodavam o celuloide,
divididos em duas ou mais partes. Quando acabava o rolo de uma máquina, dava um
breu, até passar pro outro projetor. Nesse momento a gritaria era geral!!!
Vaias, assovios, palmas, até estalinho tinha...
Alguém uma vez passou
pasta de dente em uma das lentes da projeção e foi um caos. Várias vezes alguém
entrava na frente da projeção. Sinais obscenos, sombra imitando animais com os
dedos. Muita gente sofria pra ver um filme em paz. Imagina se naquela época
existisse o celular???
Numa dessas bagunças e
algazarras alguém da turma falou: vou
mijar aqui mesmo, Na mesma hora vários outros seguiram a sugestão... O
líquido escorreu pelo piso do balcão, entrou no tubo de saída e despejou nas
cadeiras do piso térreo. Alguém de baixo reclamou e galera foi saindo de
fininho um por um... no famoso pinote...
Rapidinho já estávamos
no Bar do João Varanda, tomando um sundae com marshmallow, quando a notícia
começou a circular: Fizeram xixi no
cinema! Tão falando que foi o Amilquinha filho do Sr. Amilcar!
Assim que escutei o
buchicho evaporei do pedaço e na ponta dos pés deitei no meu quarto com o
coração a mais de 1000 por segundo.
Passados alguns
minutos que pareciam horas meu pai entrou no quarto p$%u@to da vida me deu logo
uns quatro ou cinco safanões e decretou: “Amanhã
você vai cedo lá limpar a merda que fez!!! “
No dia seguinte, bem
cedo, depois daquela noite mal dormida, peguei um balde, um pano de chão e uma
vassoura e fui limpar a c@g@d@ da noite anterior. O Duílio estava me esperando
e com pena do meu castigo disse: Tá tudo
bem. Já limpamos. Vê se aprende a lição!
Paguei o pato sozinho
e não entreguei ninguém. Não existia a delação premiada.
Até hoje, quem lembra
dessa história, que virou lenda urbana, mexe comigo. Uns de brincadeira outros
pra denegrir a minha imagem...
Passados quase 50 anos,
criei coragem e vou entregar quem mijou e conseguiu se safar. Foram os
seguintes membros da Turma da Maloca e agregados: Cará, Frateschi, Guran e Maclóvio!!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário