O que você vai
ler a seguir é uma ficção e qualquer situação, nomes ou personagens podem ser
reais desde que realmente existam ou é mera coincidência com o que estamos
assistindo atualmente no Brasil ou no restante do planeta.
Como as tramas
das novelas estão cada vez mais fracas e repetitivas vou narrar a seguir uma
história que me foi contada mais ou menos assim:
Gertrudes era auxiliar de faxina 2, em uma repartição
pública onde as pessoas ou contribuintes eram obrigadas a comparecer pra
validar o seu recibo de votação, seu comprovante de pagamento de IPTU e outros
carimbos de extrema importância para a continuidade do cabidismo empregatício em
estabelecimentos burocráticos espalhados pelo nosso imenso Brasil.
Todo dia ela
pegava três conduções para poder chegar as sete da matina no local, além de
caminhar pelo menos 2 km dentro de uma área de preservação ambiental, que dizem
foi grilada por gente ligada ao governo federal.
Essa caminhada,
por uma trilha de chão batido, desembocava numa pinguela estreita e já corrompida
pelo tempo e outras pessoas que fazem a gente perder muito tempo... Abaixo da
pinguela existia um ninho de víboras e outros animais peçonhentos que
funcionavam como recebedores de pedágio. Restos de comida e outras guloseimas
que Gertrudes sempre trazia consigo para alimentar sua filinha de 2 anos e
nariz escorrendo.
Antes de sair
de casa as quatro da madruga, Gertrudes deixava sua filha na casa da vizinha,
que também saia nesse horário, tinha uma filha bem mais velha, com 7 anos, que
cuidava da casa e tomava conta da pequena Maria.
O pai de Maria
havia falecido e Gertrudes na verdade vivia com o ex-amante da sua melhor amiga,
internada em coma há mais de 5 anos. Chamava-se Genilton.
O problema era
que ele bebia muito quando não estava trabalhando ou desempregado. E ele vivia
desempregado. Isso vinha acontecendo com frequência, praticamente desde que sua
ex-amante sofreu um trauma craniano logo após uma dessas crises.
No serviço todo
mundo tentava ajudar Gertrudes trazendo gêneros alimentícios e outros gêneros,
já que seu salário era pequeno e consumido parte com o transporte, parte com
bebida alcoólica para aplacar a sede de seu companheiro.
Sempre chegava
machucada pra trabalhar e não reclamava de nada.
Um lindo dia
chuvoso (a chuva nessa época era escassa...), saiu mais cedo do trabalho e
passou no armazém onde comprava fiado. Comprou um real de fubá e foi pra casa...
resolveu olhar na lata de lixo se tinha algum pedaço de pão. Foi quando
encontrou uma carteira velha de couro puído, sem nenhuma identificação. Dentro
um bilhete da mega sena de um concurso antigo, do mês passado. Mesmo assim
resolveu guardar a carteira e leva-la para casa.
Seu companheiro
esperava-a com uma garrafa de “cajibrina” numa mão e uma toalha molhada na
outra. Assim que entrou na casinha de zinco com papelão e chão batido, ele lhe
aplicou dezenas de toalhadas nas costas. Nisso a carteira caiu e Maria que assistia
sua mãe sendo espancada viu a carteira e a entregou pro Genilton.
Mais que de
repente Genilton ficou lúcido e saiu em disparada com o bilhete na mão...
Daquele dia em
diante ninguém mais ouviu falar de Genilton e nem do bilhete. Gertrudes
conseguiu arrumar um cantinho pra morar e criar Maria nos fundos da repartição
onde trabalhava.
Passados 20
anos Genilton reaparece rico com seu filho, Genaro, procurando por Gertrudes e
sua filhinha.
Genaro se
apaixonou por Maria, daquelas paixões a primeira vista, se casaram e viveram
felizes até que Genaro foi convocado para a terceira guerra mundial e morreu
depois da explosão... assim como todo mundo...
Amilcar não assiste novela.
Nenhum comentário:
Postar um comentário