segunda-feira, 11 de outubro de 2010

A Viagem – Parte I



Desde pequeno que sonho em conhecer outros lugares, outros países e suas culturas e também suas culinárias. Sempre que posso consulto um mapa mundi, um globo. Às vezes me deparo folheando mapas geográficos da Grã Bretanha, de Portugal ou do Brasil, por exemplo, e leio sobre os meios de transporte, os locais mais visitados, os museus e os costumes dos “nativos”, por curiosidade e também pela imensa vontade de conhecer “in loco” o Velho Continente, o berço da civilização e conseqüentemente países mais adiantados.

Pois foi sonhando dessa forma que um belo dia me apareceu uma oportunidade única, uma oportunidade de conhecer alguns países da forma como eu sempre sonhara: com poucos recursos, bem hospedado, com tempo pra realmente tocar e curtir os locais visitados, transitando como alguém do lugar.

Tudo pra mim era uma grande novidade já que tinha feito algumas viagens pelo Brasil de avião como: BH - Montes Claros em avião Bandeirantes e para Fortaleza, num Boeing médio, quando participei de um congresso da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária. Agora estava eu no aeroporto do Galeão, no Tom Jobim e com passaporte liberado para quase um mês de Europa, Oriente Médio e África. O corpo parecia não me caber de tanta adrenalina ou alguma coisa terminada com lina, talvez como se o corpo estivesse dormente, a base de morfina ou mescalina...

O check in foi rápido e eu estava livre da mala e de outras bagagens pra poder adentrar nos free shoppings e salas de espera de vôos internacionais. Gente de tudo quanto é tipo e lugar, idiomas, vestimentas e destinos se cruzando nos saguões do Tom Jobim e eu me lembrando como é que fui parar naquele lugar, sozinho, sem conhecer ninguém e com dinheiro contado no bolso. Parte era emprestado, parte eu havia juntado e comprado travel´s cheques do BB e outra parte em espécie.

Era apenas mais um esperando a  hora de embarcar rumo a Lisboa, Portugal.

Nisso uma coisa me destacava dos demais passageiros, não porque eu queria, porém naquela época, filmadoras não eram tão comuns, ainda mais a minha Panasonic 420, com tudo o que tinha direito de tecnologia, além de grande e volumosa (10 vezes maior que as atuais). As pessoas acabavam olhando e vendo aquele sujeito grande, barbudão, calça desbotada, jaqueta Lee e tênis, empunhado um equipamento "diferente". A vontade que dá é de sair filmando tudo e todos, só que você não aproveita a viagem, fica refém das lentes e “zoons”.

Fui de TAP, Transportes Aéreos Portugueses, bitelo, daqueles com quatro turbinas e primeira classe, três carreiras de poltronas, telão e várias aeromoças, que se desdobravam pra acomodar aquela galera de engenheiros e arquitetos do Brasil.

O vôo fretado não estava lotado e, logo procurei uma carreira de poltronas vazias pra poder enfrentar às 10 horas de viagem sobre o Atlântico. Outras figuras mais tarimbadas, também tomaram conta da parte dos fundos do avião e logo estávamos “trocando figurinhas”, nos conhecendo.

Afinidade é uma coisa que existe e acontece de primeira ou de classe turística, como a primeira impressão é a que fica. Num instante eu já estava enturmado com algumas pessoas que nunca mais eu veria, mas que naquele momento eram como velhos amigos, gente da família, pois assim como eu, estavam sozinhos, com pouca grana, mas com uma vontade pantagruélica de sair pelo mundo conhecendo tudo, saboreando novidades e bebendo todas.

Alguns amigos como os arquiteto Eloy e o cenógrafo Screpelitti (a pronuncia é essa), já tinham viajado para o exterior, porém não conheciam Lisboa, Bruxelas (Bélgica), Londres (Inglaterra), nem Jerusalém, e Tel Aviv (Israel) e  Cairo e Memphis (Egito), que na verdade eram a grande expectativa da maioria.

Adormeci no meio do papo e do champagne que nem notei quando pousamos na cidade do Porto, norte de Portugal, apenas uma parada estratégica, logo estávamos de novo rumo ao sul rumo a Lisboa, a linda e acolhedora Lisboa.

O hotel, um cinco estrelas básico da rede Marriot nos esperava com um belo coquetel a base de champagne e vinho do porto além de salgadinhos e canapés. Na verdade eu queria mesmo era sair, conhecer, começar a ver o sonho real, de perto e logo estávamos na rua, andando sem rumo, ou melhor, orientados pelo grande Eloy que sempre sacava de sua bolsa mapas e dicas turísticas. E eu filmando tudo...

Pra que andar de ônibus da excursão (city tour), pra que se limitar em horários e bandos de turistas deslumbrados se você pode fazer tudo sozinho, mais barato, de metrô, de taxi ou a pé e da forma mais liberal possível?

E assim foi ao início da minha viagem inesquecível...Era outubro de 1988...



Amílcar se perdeu em Lisboa!

sacadinha do pum