terça-feira, 2 de abril de 2013

5:50



5:50


O jeito era acordar cedo pra pegar o ônibus da Santos que naqueles tempos tinha o Bar Tabuleiro da Baiana como rodoviária...
A maioria dos passageiros era formada por estudantes e trabalhadores que “pegavam” os ônibus ali, entre a Banca do Zé Padula e o Cine Theatro São José.
Nesse horário ainda era noite e nos meses de  inverno baixava até cerração, nevoeiro tipo o fog londrino.
A maioria das ruas possuía pavimentos de pedra, paralelepípedos substituídos de forma criminosa pelo asfalto (hoje parecemos um bairro de periferia de cidade grande).
Outra grande vantagem: a ausência total de quebra molas!!! Os táxis que já ocupavam uma das áreas mais nobres de estacionamento na cidade, ainda não ostentavam a cobertura metálica medonha, que privilegia alguns em detrimento da maioria do povo e do comércio.
O grande problema e esse continua, assim como o “abrigo” irregular, é o numero de paradas que o ônibus da Santos faz até a saída com a BR 267.
Nisso a lotação já tinha ultrapassado os limites toleráveis e pessoas em pé eram em maior quantidade que os sentados.
Claro que alguns não seguravam os gases, outros espirravam e aí todo mundo era contaminado, alguns tentavam estudar ou ler (naqueles idos nada de fones, nada de celulares, nada de tablets, talvez radinhos de pilha chiando na orêia de uns), a maioria conversava ou reclamava. No fim ou na metade do trajeto o zum zum das dezenas de vozes, risos contidos, gargalhadas, peidos e reclamações, formavam um barulho às vezes ensurdecedor. O cigarro era liberado!!!
Os trocadores (homenagem ao Valmir e ao Brás), sofreram muito nesse momento, entre os anos1968 e 1978, pois tinham que ir até ao fundo do “buzum” e voltar cobrando e marcando as passagens. Nesse caminho tinha: passada de mão, caneta roubada, gente que conseguia agachar pra não ser visto e não pagar, vários que fingiam dormir profundamente e até gente impedindo a passagem...
Sei que fui um passageiro inconveniente, porém assíduo daquele horário de ida e também no 11h45min da volta, que me pegava na Rua Espírito Santo, no famoso ponto do Pantaleone Arcuri. Aliás quem tinha automóvel era obrigado a passar por ali. Não existiam os acessos atuais.
A passagem custava  CR$ 1,00 (um cruzeiro). Acho que era a cédula com o Pedro Alvarez Cabral.
Todo mundo ficava na espreita pra pegar carona e economizar aquele famoso Cabral... Eu me tornei um verdadeiro caronista profissional. Vinha de caminhão, de fusca, de Aero Willis, de Variante, Opala, Maverik, Jipe e Rural...
Um belo dia pegamos uma carona na caminhonete do Sr. José Maria Guarnieri e pelo menos uns dez subiram na carroceria... Naquele dia o pessoal da Santos já bastante aborrecido com a nossa (má) conduta (e com razão), passou lotado no Pantaleone e ficamos na dependência da carona ou o próximo ônibus...as 12:45...
A caminhonete apesar de cheia logo encostou na traseira do ônibus e ultrapassou-o próximo do “trevo” de Chácara (naquela época era permitido a ultrapassagem naquele ponto). Imediatamente todos os caroneiros sacaram seus “Cabral’s” acenando pro pessoal do ônibus de forma festiva e acintosa.
A partir desse dia a empresa convocou uma reunião (no Clube Biquense) com os pais e alunos. A retaliação foi colocada em forma de passe mensal. Ou você comprava o passe mensal com um pequeno desconto e poltrona marcada ou ficava na expectativa de sobrar lugar.
Carona então não economizava mais o Cabral, apenas chegava mais cedo pro almoço...
Outra maneira de diminuir a algazarra que fazíamos, inclusive a narração de um gol fictício narrado com maestria, alá Waldir Amaral,  pelo amigo Alberto Renault Adib, culminando com todos os passageiros gritando goooooolllll, pulando dentro do ônibus e batucando nas poltronas, foi à obrigatoriedade de só viajarmos com a seguinte condição: Chico, Vicentim, Alberto e eu sentados nas poltronas 1,2,3 e 4.
Funcionou durante algumas semanas...
...Fomos convidados a procurar outro meio de locomoção...


Amilcar não era rebelde!
   

sacadinha do pum