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O jeito era acordar cedo pra
pegar o ônibus da Santos que naqueles tempos tinha o Bar Tabuleiro da Baiana
como rodoviária...
A maioria dos passageiros era
formada por estudantes e trabalhadores que “pegavam” os ônibus ali, entre a Banca do Zé Padula e o Cine Theatro São
José.
Nesse horário ainda era noite
e nos meses de inverno baixava até
cerração, nevoeiro tipo o fog londrino.
A maioria das ruas possuía
pavimentos de pedra, paralelepípedos
substituídos de forma criminosa pelo asfalto (hoje parecemos um bairro de
periferia de cidade grande).
Outra grande vantagem: a
ausência total de quebra molas!!! Os táxis que já ocupavam uma das áreas mais
nobres de estacionamento na cidade, ainda não ostentavam a cobertura metálica
medonha, que privilegia alguns em detrimento da maioria do povo e do comércio.
O grande problema e esse
continua, assim como o “abrigo”
irregular, é o numero de paradas que o ônibus da Santos faz até a saída com
a BR 267.
Nisso a lotação já tinha
ultrapassado os limites toleráveis e pessoas em pé eram em maior quantidade que
os sentados.
Claro que alguns não seguravam
os gases, outros espirravam e aí todo mundo era contaminado, alguns tentavam
estudar ou ler (naqueles idos nada de fones, nada de celulares, nada de
tablets, talvez radinhos de pilha chiando na orêia de uns), a maioria conversava ou reclamava. No fim ou na
metade do trajeto o zum zum das dezenas de vozes, risos contidos, gargalhadas,
peidos e reclamações, formavam um barulho às vezes ensurdecedor. O cigarro era
liberado!!!
Os trocadores (homenagem ao Valmir e ao Brás), sofreram muito nesse
momento, entre os anos1968 e 1978, pois tinham que ir até ao fundo do “buzum” e
voltar cobrando e marcando as passagens. Nesse caminho tinha: passada de mão,
caneta roubada, gente que conseguia agachar pra não ser visto e não pagar,
vários que fingiam dormir profundamente e até gente impedindo a passagem...
Sei que fui um passageiro
inconveniente, porém assíduo daquele horário de ida e também no 11h45min da
volta, que me pegava na Rua Espírito Santo, no famoso ponto do Pantaleone
Arcuri. Aliás quem tinha automóvel era obrigado a passar por ali. Não existiam
os acessos atuais.
A passagem custava CR$
1,00 (um cruzeiro). Acho que era a cédula com o Pedro Alvarez Cabral.
Todo mundo ficava na espreita
pra pegar carona e economizar aquele famoso Cabral... Eu me tornei um
verdadeiro caronista profissional.
Vinha de caminhão, de fusca, de Aero Willis, de Variante, Opala, Maverik, Jipe
e Rural...
Um belo dia pegamos uma carona
na caminhonete do Sr. José Maria Guarnieri e pelo menos uns dez subiram na carroceria...
Naquele dia o pessoal da Santos já bastante aborrecido com a nossa (má) conduta
(e com razão), passou lotado no Pantaleone e ficamos na dependência da carona
ou o próximo ônibus...as 12:45...
A caminhonete apesar de cheia
logo encostou na traseira do ônibus e ultrapassou-o próximo do “trevo” de
Chácara (naquela época era permitido a ultrapassagem naquele ponto).
Imediatamente todos os caroneiros sacaram seus “Cabral’s” acenando pro pessoal
do ônibus de forma festiva e acintosa.
A partir desse dia a empresa
convocou uma reunião (no Clube Biquense) com os pais e alunos. A retaliação foi
colocada em forma de passe mensal. Ou você comprava o passe mensal com um
pequeno desconto e poltrona marcada ou ficava na expectativa de sobrar lugar.
Carona então não economizava
mais o Cabral, apenas chegava mais cedo pro almoço...
Outra maneira de diminuir a
algazarra que fazíamos, inclusive a narração de um gol fictício narrado com
maestria, alá Waldir Amaral, pelo amigo
Alberto Renault Adib, culminando com todos os passageiros gritando goooooolllll, pulando dentro do ônibus
e batucando nas poltronas, foi à obrigatoriedade de só viajarmos com a seguinte
condição: Chico, Vicentim, Alberto e eu
sentados nas poltronas 1,2,3 e 4.
Funcionou durante algumas
semanas...
...Fomos convidados a procurar
outro meio de locomoção...
Amilcar não era
rebelde!