quinta-feira, 6 de outubro de 2016

A primeira e última...



“Ninguém entra numa disputa pra perder”, foi a primeira frase que me disseram quando pensei em me candidatar a uma vaga na câmara de vereadores de Bicas.
É uma verdadeira maratona o procedimento de inclusão nessa disputa. Começa com a filiação partidária que depois de aprovada, no meu caso filiei-me no PSDB (em homenagem ao grande FHC), depois a documentação, terminando com a abertura de conta pessoa jurídica individual.
Nessa eleição muita coisa mudou na legislação eleitoral, principalmente no que diz respeito a propaganda e eu analiso isso como um avanço, pois a campanha foi nivelada por cima.
Recebi do partido e da coligação, praticamente todo o material necessário de campanha: santinhos, adesivos pra carro, adesivos de roupa, pôster para residências e plano de governo da coligação.
Nossa equipe, muito afinada e muito bem montada num bunker, apelidado de BIROSCA, local aprazível cedido pelo amigo Chico Mineiro (companheiro de literatura clássica, popular e outras...), trabalhava dia e noite pra não faltar nada pra nenhum dos 36 candidatos e pra chapa vitoriosa Honório e Luizinho.
Após várias reuniões, estávamos todos ligados na curta campanha (45 dias), que aprovo de novo e os comícios sendo agendados...aí começa o frio na barriga: falar em público! Já me disseram que meu discurso não ganha nem pra síndico de condomínio do minha casa minha dilma...
Lembro que meu pai quando se candidatou pela primeira vez, diziam que com poucos recursos financeiros, ofertava pares de sapatos da Sapataria Zélia, mas da seguinte forma: um pé antes da eleição e o outro depois da votação...
Da mesma forma, também não disponho de recursos suficientes pra fazer “gracinha”, porém você acaba gastando algum. Nessas horas quem gasta muito e não leva, pode ficar encalacrado pra recuperar suas finanças.
Então tentei ser criativo. Meu slogan, ao entregar o santinho, foi: Não sou santo mas também não faço milagres...não colou...
Nos comícios apelei para a minha origem: Sou filho do Amilcar, ex-prefeito, da Dona Zélia da sapataria, casado com a professora Vitória, pai da Thereza e da Mariana, neto do Dr. Matheus Monteiro da Silva, genro do Roberto de Paula, ex vereador e sindicalista da extinta RFFSA, etc. Também não colou.
Falei muito mal da atual administração, dos candidatos adversários e seus mentores...não fez nem cosquinha.
Sabia que pra me eleger teria de ter uns 300 votos. Foi aí que resolvi usar a matemática: 30 dias de campanha, arrumando 10 votos por dia, no fim 10 x 30= 300 votos.
Se você pensar bem, não é nada impossível. Só que existe o “se”, existe o imponderável Sobrenatural de Almeida (by Nelson Rodrigues), mesmo olhando olhos nos olhos do eleitor, fazendo juras de amor eterno, promessas de votos da família toda...só cola antes do pleito...
Na reta final eu já estava com excesso de votos (mais de mil), fazendo igual ao verdadeiro e único Sá Onça: distribuindo esse excesso pra vereadores menos cotados...também não colou.
Só tinha mais um jeito: sem dinheiro, com fama de “campeão” da simpatia (ou vice, pois sou vascaíno), mais algumas centenas de desafetos e outros em processo de finalização, eu tinha que prometer alguma coisa. Alguma coisa de peso, afinal todo mundo estava fazendo promessas. Tinha gente prometendo até “bolsa família em segundo grau”, ou seja: se eu ganhar e você for meu parente em segundo grau vai ganhar um bônus em dinheiro enquanto estiver na câmara!
Teve promessa de construção do metrô Bicas – Guarará, construção de outra creche por cima daquela, já que ela não caiu, transplantes de órgãos e cirurgias plásticas (inclusive silicone) no Hospital São José, etc.
Então fiz a seguinte promessa: juntar todos os times de futebol de Bicas; Sport, Leopoldina, Flamenguinho, Olaria e Serrano, formar um timaço e disputar a série A do brasileirão.
Alguém virou assustado e de frente pra esse ex candidato que te fala e perguntou: - Mas onde esse time vai jogar?
Respondi: No estádio municipal de Bicas, uai!
Futuro eleitor: - Onde fica isso, meu vereador?
Futuro vereador: Lá dentro do futuro polo industrial!!!
Ex eleitor quase acreditando: - Mas e a grana pra fazer isso tudo???
E eu já exausto de tantas indagações, cansado da campanha extenuante e pensando em tomar um “liquítido” com alguma graduação alcoolica, respondi de imediato: - Vou doar a metade do meu salário!!!
Bem, no final tive 69 votos. É um número cabalístico e sugestivo, que não chegou nem perto do último colocado, só que Honório e Luizinho ganharam por 208 votos, quer dizer: Ajudei com os meus 69!!!
É ruim perder, a gente sofre, a família sofre, tem as gozações do tipo: liga não, daqui 4 anos tem mais ou começa a pedir agora... porém também a gente aprende e se diverte!
Agradeço minhas “cabas” eleitorais que pediram, sofreram e lutaram muito pela minha campanha: Vitória (esposa), Angélica (irmã) e Dona Ilma (sogra)! Agradeço principalmente aos meus eleitores!
Bicas saiu ganhando e isso é o que interessa!

sacadinha do pum