sexta-feira, 17 de outubro de 2014

A Nova Novela



O que você vai ler a seguir é uma ficção e qualquer situação, nomes ou personagens podem ser reais desde que realmente existam ou é mera coincidência com o que estamos assistindo atualmente no Brasil ou no restante do planeta.
Como as tramas das novelas estão cada vez mais fracas e repetitivas vou narrar a seguir uma história que me foi contada mais ou menos assim:
Gertrudes era auxiliar de faxina 2, em uma repartição pública onde as pessoas ou contribuintes eram obrigadas a comparecer pra validar o seu recibo de votação, seu comprovante de pagamento de IPTU e outros carimbos de extrema importância para a continuidade do cabidismo empregatício em estabelecimentos burocráticos espalhados pelo nosso imenso Brasil.
Todo dia ela pegava três conduções para poder chegar as sete da matina no local, além de caminhar pelo menos 2 km dentro de uma área de preservação ambiental, que dizem foi grilada por gente ligada ao governo federal.
Essa caminhada, por uma trilha de chão batido, desembocava numa pinguela estreita e já corrompida pelo tempo e outras pessoas que fazem a gente perder muito tempo... Abaixo da pinguela existia um ninho de víboras e outros animais peçonhentos que funcionavam como recebedores de pedágio. Restos de comida e outras guloseimas que Gertrudes sempre trazia consigo para alimentar sua filinha de 2 anos e nariz escorrendo.
Antes de sair de casa as quatro da madruga, Gertrudes deixava sua filha na casa da vizinha, que também saia nesse horário, tinha uma filha bem mais velha, com 7 anos, que cuidava da casa e tomava conta da pequena Maria.
O pai de Maria havia falecido e Gertrudes na verdade vivia com o ex-amante da sua melhor amiga, internada em coma há mais de 5 anos. Chamava-se Genilton.
O problema era que ele bebia muito quando não estava trabalhando ou desempregado. E ele vivia desempregado. Isso vinha acontecendo com frequência, praticamente desde que sua ex-amante sofreu um trauma craniano logo após uma dessas crises.
No serviço todo mundo tentava ajudar Gertrudes trazendo gêneros alimentícios e outros gêneros, já que seu salário era pequeno e consumido parte com o transporte, parte com bebida alcoólica para aplacar a sede de seu companheiro.
Sempre chegava machucada pra trabalhar e não reclamava de nada.
Um lindo dia chuvoso (a chuva nessa época era escassa...), saiu mais cedo do trabalho e passou no armazém onde comprava fiado. Comprou um real de fubá e foi pra casa... resolveu olhar na lata de lixo se tinha algum pedaço de pão. Foi quando encontrou uma carteira velha de couro puído, sem nenhuma identificação. Dentro um bilhete da mega sena de um concurso antigo, do mês passado. Mesmo assim resolveu guardar a carteira e leva-la para casa.
Seu companheiro esperava-a com uma garrafa de “cajibrina” numa mão e uma toalha molhada na outra. Assim que entrou na casinha de zinco com papelão e chão batido, ele lhe aplicou dezenas de toalhadas nas costas. Nisso a carteira caiu e Maria que assistia sua mãe sendo espancada viu a carteira e a entregou pro Genilton.
Mais que de repente Genilton ficou lúcido e saiu em disparada com o bilhete na mão...
Daquele dia em diante ninguém mais ouviu falar de Genilton e nem do bilhete. Gertrudes conseguiu arrumar um cantinho pra morar e criar Maria nos fundos da repartição onde trabalhava.
Passados 20 anos Genilton reaparece rico com seu filho, Genaro, procurando por Gertrudes e sua filhinha.
Genaro se apaixonou por Maria, daquelas paixões a primeira vista, se casaram e viveram felizes até que Genaro foi convocado para a terceira guerra mundial e morreu depois da explosão... assim como todo mundo...


Amilcar não assiste novela.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

sacadinha do pum