sábado, 13 de março de 2010

O Vinho




De uns tempos pra cá todo mundo passou a beber vinho! Dizem que a onda começou com os alemães da garrafa azul, também conhecidos como Liebfraumilch. Servido bem gelado, com um sabor um pouco adocicado e meio frisante. Num instante caiu no gosto dos brasileiros “descolados” e outros que não descolam nunca, também conhecidos como grude...
O Brasil nunca foi grande apreciador de vinho até outro dia, isso porque o clima tropical combina mais com uma cerva gelada e roupas arejadas. Só que hoje muita gente boa e ruim também passou a beber vinho tinto em larga escala e passou a entender também da nobre e tradicional bebida.
Tem gente que sabe tudo sobre vinho, sobre a qualidade das uvas, sobre a região produtora, as safras, os processos de fabricação e estocagem, a madeira do tonel, a localização da cave. Discorre sobre o buquê do vinho, emana sobre a cor do liquido, divaga em torno dos taninos, da acidez, os aromas frutados e a maciez da bebida. Tece comentários a respeito da safra e da forma correta de manter as características primitivas do néctar dos deuses, como se fosse um deles próprios ou como se eles bebessem juntos desde o inicio dos tempos...
A cortiça da rolha, os saca-rolhas (hoje existem modelos que vão de zero a mais de mil reais) que não pode estragar a rolha, verdadeiros aparelhos com acionamento hidráulico que extraem a rolha suavemente.
E o ritual? Pode ser até modismo tal qual comida japonesa que muita gente come pra ficar na onda, nas mão (gíria de Belô), pra ficar na moda ou porque tá todo mundo comendo.
O ritual pra se tomar um bom vinho tinto, por exemplo, deve ser seguido ao pé da letra. Vai da temperatura ideal para degusta-lo ao brinde. Alguns carregam suas próprias taças como é o caso do grande Ed Motta. Primeiro colocam uma pequena quantidade na taça, depois sacodem a taça fazendo o líquido girar no sentido anti-horário pra ele liberar o buquê, o aroma. Outros, após o gole, bochecham o suco entre os dentes para que o paladar seja completo em todos os cantos da boca.
Depois que cada um emite sua opinião, começam os acepipes e acompanhamentos que vão desde queijos frescos a verdadeiros mofos. Vão de pães diversos, passando por patês, carpaccios e parmas.
As massas ficam muito mais saborosas quando se bebe um encorpado numa taça generosa. Parece que talharim ao alho e óleo é de outro mundo, talvez da Itália. Pizzas, canelones, lasanhas, inhoques e outras. Todas vão muito bem, acompanhadas de uma taça de vinho.
Carnes também. Seja qualquer uma. E uma fondue?
Nessas alturas o caboclo já está babando. É melhor parar antes que algum maluco resolva comer a crônica. Eu disse a crônica e não o cronista. Mesmo porque não sou tira gosto, muito menos comida. Imagina você sonhar que tá sendo comido? Papo mais estranho, conversa de canibal. - - Seu antropófago insensível!
Aí é que mora o perigo, pois o Baco, nessas alturas da graduação, que em média deve girar por volta dos 13º, pode aparecer na tal festa e junto com o Dionísio, que dizem as más línguas é metade gente, metade bode e ainda toca flauta, transformarem tudo numa Sodoma. Isso tudo é sinal que o vinho está fazendo a pessoa, o elemento, delirar. Nesse momento tem gente que se imagina num banquete ou numa orgia daquelas com javalis inteiros assados, pães e cachos de uvas suculentas esparramadas sobre a mesa de madeira de sequóia, enquanto a algazarra adentra pela madrugada...
Por isso é que eu digo: beba com moderação! Não vá achando que tudo isso é brincadeira não, pois o vinho assim como qualquer outra bebida foi feito pra ser degustado, saboreado e não por que o mundo vai acabar naquele momento.
O melhor disso tudo é que até pouco tempo atrás muita gente boa tomava Maravilha de São Roque até a boca ficar roxinha, tomava Canção, tomava Sangue de Boi em grandes e generosas quantidades sem saber que um belo dia estaria degustando um delicioso Alentejano...


Amilcar bebe vinho também!

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sacadinha do pum