domingo, 31 de janeiro de 2010

O Boteco

Até algum tempo atrás os botecos, baiúcas, tabernas ou botequins eram muito discriminados, eram mal falados e praticamente excluídos da sociedade, como sendo um comércio qualquer, vulgar e mal freqüentado.
Os botecos já foram temas de sermões de praticamente todas as igrejas e seitas religiosas (na Santo Daime o chá é liberado), foram considerados lugar do demo, do capeta e de Lúcifer.
As pessoas, que freqüentavam os botequins, então, eram a escória da sociedade, um tumor maligno, que as mães ao passarem com os filhos, tapavam os olhos das crianças para que elas não vissem aquele antro sujo de perdição e vulgaridade.
Pois bem. O tempo passou, o mundo continuou seu trajeto em torno do Sol e sobre seu próprio eixo, Galileu sofreu com a inquisição, inventaram a luz elétrica e a geladeira, as bebidas foram se multiplicando, vinhos, espumantes, prossecos, aguardentes de tudo quanto é tipo de sabor e região, cervejas, conhaques, runs, gins, martinis e coquetéis, foram deixando as pessoas mais liberais e menos preconceituosas, tornando o boteco um local como outro qualquer.
Hoje em dia até os conhecidos como pé sujo ou outra parte do seu corpo sujo, que receberam esse nome devido à inexistência de higiene, principalmente no banheiro (geralmente fétido, sem papel e sem ventilação, com cesta de papel carimbado saindo pelo ladrão e se misturando com urina e outros líquidos derramados e respingados pra todo lado, além é claro do belo espécime de bolo fecal boiando dentro do vaso que um dia foi branco como a neve...), e também na cozinha (piso melado, paredes revestidas de azulejo engordurado escorrendo pelos rejuntamentos, panelas tortas e negras de fuligem, apenas uma tomada universal conectada por quatro “benjamin’s”, logicamente com a pia entupida de pratos de PF por lavar, além das iguarias, carnes, legumes e temperos, protegidos por vários tipos de varejeiras e moscas oriundas do banheiro já descrito), porem existem controvérsias...
As controvérsias são as seguintes: o tal sujo é porque o dono do estabelecimento está sempre com a mesma roupa, as unhas sujas, suado e com um pano de prato ensebado nos ombros. Ou porque os freqüentadores são perfeitos lambões que cospem no chão, arrotam com grande naturalidade e desenvoltura, além de jogarem no chão “a do santo” e as guimbas .
Os botecos surgiram das tabernas e também do desemprego. As tabernas eram como porões e serviam refeições, às vezes quartos e banho, alem do famoso balcão, aonde as pessoas chegavam e tomavam uns tragos. O desemprego, mais recente nessa história toda, contribuiu sobremaneira para a proliferação dos botecos, pois sem ter o que fazer o caboclo parte pro negócio próprio e quem tem um pequeno capital e uma porta de garagem se arranja rapidinho além de ficar perto das geladas o dia inteiro...
Apesar do preconceito ainda existir, os botecos fazem parte da cultura de um país e é ponto de encontro de gente que quer se divertir ao mesmo tempo em que resolve todos os problemas que afligem a maioria do povo brasileiro. As pessoas relaxam, distraem, se alegram ou se afogam, quer dizer: mudam de comportamento. Num botequim o clima de trabalho, de escritório, de transito, de velório, de serviço e de problemas quaisquer, se vai ou se vão como num passe de mágica. Se você é freqüentador assíduo, o garçom já sabe a mesa preferida, a bebida e o tira-gosto. Tem garçom que conhece sua família inteira e leva um papo como se fosse intimo do freguês.
Alguns botecos principalmente em Minas e no Rio já viraram sinônimos de boa comida-ambiente-bebida. Em BH já falei sobre o Mercado Municipal na Augusto de Lima perto da Praça Raul Soares. Boas cachaças e o famoso fígado acebolado. Na Floresta tem o Bolão que serve um macarrão fora-de-série. No Sion na Grão Mogol quase esquina com a Uruguai, o Bar do Antônio, freqüentado pelos nativos do Carmo, Sion e Funcionários, cerveja geladésima e chope idem, os botecos da Savassi e de Lourdes, no Centro, etc.
Sem querer alongar demais e os botecos em Diamantina, Ouro Preto e Tiradentes? Tá com água na boca? Então vamos falar do Bar Luis na Rua da Carioca no Rio, o chope na temperatura e na idade certa, naqueles copos boca larga pro caboclo molhar o bigode. E o kassler (bisteca de porco) com batatas coradas e chucrute?
Nessas alturas já fui lá pra Siqueira Campos em Copacabana, no Adega Pérola e não sei quais dos mais de 40 tipos de tira-gosto vou pedir e olha que estão todos prontos no balcão-vitrine procê apreciar. Vai de sardinha portuguesa ou de salada de bacalhau com favas e cebolas ao vinagrete?
Para!!!
Calma, ainda não falei nada do Portugália no Largo do Machado, ainda não falei nada do centro do Rio, Arco dos Teles, Flor do Líbano, etc. E o sanduba do Cervantes?
Deixei JF pro final, de propósito, por que aqui também tem botecos desde os mais simples e tradicionais como O Futrica (a pizza de queijo tipo reino receita de 50 anos e o PF justo), O Bigode (o torresmo sem explicação do Bigode e Jerry Lewis-Xororó), o do Abílio, ou o Bar do Léo (o local mais aprazível – pracinha do Jardim Glória), até os mais sofisticados como a Churrasqueira (carnes magníficas e outras combinações, além das instalações e serviços de primeiro mundo), passando pelos de médio porte como o Bar da Fábrica (também conhecido como Bar do Waney), a Churraspizza (Manoel Honório), os da Manoel Bernardino no São Mateus, o Gilbertinho no Granbery, o Procopão, o Passarinho, o Assunta, etc.
Pra terminar só quero lembrar que assim como existem vários tipos de botecos, existem também vários tipos de freqüentadores de boteco, sendo que alguns já fazem parte da decoração local. Quando não se vê, o figura, parece até que você errou de bar...
Portanto camarada, aproveite bastante as várias opções, mas beba com moderação, pois o mundo não vai acabar assim da noite pro dia e você ainda está em tempo de pedir a saideira...

Amilcar pode ser encontrado neste tipo de estabelecimento sem rivalizar com o Julinho Corneteiro!

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sacadinha do pum